sábado, 4 de junho de 2011

Brasil, AIDS e Sociedade.

   Uma doença até então desconhecida deixava a sociedade brasileira perplexa diante de tantos casos que surgiam e levava as pessoas a morte - inclusive famosos-, eis o cenário brasileiro no início da década de 1980 em relação a AIDS. Durante muito tempo o medo e a desinformação eram fatos do cotidiano das pessoas, sendo que tal desinformação associou a Aids aos homossexuais, pois foi o primeiro grupo no qual a Aids apareceu nos EUA e nesta época a doença ficou conhecidada como a “peste gay”, fazendo surgir o preconceito e a marginalização dos contaminados.  A sociedade entrava em pânico, pois não sabia lidar com as pessoas contaminadas e com a doença.


Cantor Cazuza, magro devido à AIDS.

   O novo vírus estava ligado à sexualidade, ao prazer humano, assuntos que fazia parte de todos, mas eram proibidas de serem faladas em ambientes públicos. Sexo e sangue, símbolos da vida, estavam se transformando em símbolos do perigo de morte. O tabu existente a cerca desses símbolos impedia a sociedade de debater sobre essa nova doença que assombrava todo povo. O vídeo abaixo retrata justamente isso:



   A sociedade brasileira rejeitou fortemente os infectados. Chegou a acontecer atitudes de grande violência, como famílias manterem filhos presos em locais isolados, prostituta grávida sendo perseguida e a existir grupos de exterminadores que matavam os doentes nas ruas. Ninguém denunciava os criminosos, pelo contrário, existia até certa aceitação social de atitudes, por mais que alguns casos chegavam a chocar a opinião pública.

   A medicina não sabia o que fazer, pois essa nova doença acabou com o ideal da ciência médica de dominar toda a natureza biológica humana. A religião também ficou desorientada, sua moral, sobretudo a católica, fez aumentar mais o medo e o preconceito do que qualquer outra coisa. Política, medicina e religião não souberam fazer ou dizer nada que pudesse oferecer alguma orientação à cura ou, pelo menos, para aliviar a dor dos infectados e diminuísse o medo e o preconceito na sociedade.
   Abaixo, um vídeo da notícia de descoberta da Aids no Fantástico em 1983:

  Inúmeros fatores levavam a sociedade brasileira a ter essa reação diante da Aids. Entre eles a própria cultura marcada por uma forte moral religiosa, sobretudo a católica. Uma doença que aparece primeiramente entre homossexuais (grupo que já era vítima de preconceito) e que está ligada a comportamentos de risco, como à vida sexual promíscua e ao uso de drogas, fere toda a sensibilidade cultural de um povo cujos padrões morais não permitem tal comportamento.Porém pessoas fora dos tidos “grupos de riscos” começam a ficar infectadas com o HIV, tais como pessoas de todas os níveis sociais e de todo o tipo, até pessoas tidas "inocentes", como criança que se contaminavam por transmissão vertical (da mãe para o filho) e hemofílicos em transfusão sanguínea. A sociedade brasileira foi obrigada a repensar o seu trato com os infectados pelo HIV.
  
   O Brasil ao repensar teve avanços na lida com portadores do HIV/Aids e torna-se o primeiro país no mundo a incorporar nos direitos humanos a necessidade da preservação da dignidade das pessoas infectadas com a HIV. Todos têm direito ao acesso ao tratamento existente e não podem ser excluídos de qualquer coisa por serem portadores do vírus da Aids. Com isso os portadores da AIDS passam de um papel de culpados, para um papel de vítimas da doença.

   O Brasil assume a sua responsabilidade social em relação os portadores de HIV e a luta contra a Aids, sobretudo no aspecto prevenção, pois a cura parece algo praticamente impossível de ser descoberta. O país começa a lutar por medicamentos para os soropositivos, luta que chega a embates internacionais, pois o Brasil teve que quebrar patentes para ter acesso a medicamentos mais baratos e oferecer a todos os infectados. Atualmente todos os soropositivos na nação brasileira têm direito a medicamentos antiretovirais oferecidos gratuitamente pelo SUS. O Brasil tem o melhor plano de assistência aos portadores do vírus da Aids, um exemplo mundial.

   A Aids no Brasil, desde o seu surgimento, passou por um processo de transformação dentro da sociedade. Desde a sua total marginalização e o descaso do poder público até uma cultura de solidariedade ao infectado, à  disposição social de assumir a necessidade da prevenção da doença e de um tratamento digno aos soropositivos. Porém ainda há muito que fazer, pois não se muda uma cultura e uma sociedade em duas décadas. A Aids gerou um pânico inicial com seqüelas presentes ainda nos dias, presente nos elementos que atrapalham a luta conta a doença. Não temos mais grupos sociais de risco, mas temos COMPORTAMENTOS de riscos presentes em todos os níveis da sociedade e ainda não sabemos muito como lidar com esses comportamentos. Apesar de que no Brasil, em meio à miséria e à marginalização dos soropositivos, surge uma integração, que somada à cultura da solidariedade e a atitudes governamentais, dão-nos uma esperança na luta contra essa pandemia e à possível convivência saudável com os infectados. Temos um tortuoso e dolorido caminho a percorrer para que realmente o mundo possa se espelhar em nós na luta contra a Aids.

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